quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

O chapéu.



Para Izabel Xarru.



mananciais e telhados, vidros de ônibus e vontade de botar fogo,
já vi dessas coisas, sim senhor,
mas abarquei a vela sendo vento e por isso
a solitude te afasta de mim, amedronta, sabe ?
venha.
logo mais acima o Pedinte se foi e deixou o chapéu na frente da catedral.
apenas peço, para me manter acordado
que deposite ali qualquer valor,
mesmo que sejam chuvas ou telhas,
tais fotos outrora alguns,
uma lataria de unhas cortadas
ou o fósforo que ainda possa vir a funcionar,
e veja,
mesmo com a calma benfazeja do pároco,
que aqui te indicou o caminho de onde fica o
Homem que Conta Histórias.
Sem mesmo medo, traga até aqui o feltro e a órbita dos anos,
escolha algo e te falo sobre isso quando ainda era nem nascido aquilo,
se é do medo de si,
afinal, uma primeira vez,
a moeda, uma pequena moeda de valor quebrado
,de vírgulas condescendentes,
e entenderei que devo pisar fraco na fumaça
entre o senhor e aquele ali que te fez andar de tão,
mas tão longe,
do que o senhor era no esteio.
não se enfrente tanto se o medo bate,
afinal chuvas de espetáculo
corroem musgos e paredes das famílias,
e telhados por vezes ficam melhor em flores, terra e bilhetes,
sobre as lápides.
mas seja livre na escolha.
o pároco deve ter te falado sobre isso,
bem como falam os mitos de tal estrada onde o hoje pontua.
- Quem foi o homem que um dia lá deixou o chapéu e a ordem ? hum...essa é a pergunta dos que ainda esperam algo do abandono lá das malas,
na pensão reconstruída sempre
de Maria puta em chamas e fumaça densa, sem piedades,
mas sim, reconstrutora,
- vai-te benza-deuses-orgulhosos, vai-te e não nos incomode -
assim sendo já será, faça
:
passe-me todo o chapéu conteúdo,
esvazie logo aqui nesse nada que se abre no telhado do ar, o raio,
não saia daí por nada - vai gostar: a lassidão de esgotar-se finalmente -
por nada, repito,
até o dia
em que talvez eu volte,
ou te procure
no fio dos anos,
das três megeras domadas, ah conhaque ,
indicado pelo pároco, eu e tempo,
para que me conte e me alivie
da história, dos afagos e fátuas Romas,
do acaso
da andança suspirosa
enfim,
desespenrançosa raça,
do nós sorridentes então.
º

6 comentários:

  1. isso me doeu de um jeito alargado de areias e ligas de rios que correm por baixo, esperando fresta de deságue. e me deixou quieta. enluarada.
    o texto é tão bonito. tão.


    bel

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  2. pensei no café, pra variar,
    e quando vc o serve
    e ele já nõ está mais pelando de quente, quente sim, mas tragável.
    como o que tomo agora.
    e pensei.....daquele jeito,
    um monte de coisa,
    com o
    peito.
    E vou ler Saramgo....
    bjs.

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  3. cada vez que leio fica mais bonito. isso devia ser publicado para todo mundo ler. todo o mundo. e o chapéu fica ali, como quem não quer nada....

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