texto de Izabel Xarru
para Paulo Castro
Não. Não há o que dizer depois que o chapéu foi esquecido entre as latas e esse ruído sem medula, que não pára.
O valor depositado, mesmo que justo, com o tempo de gotejamento, já umidecia as babas do irretorquível, sim, sobre o telhado, nu e guardado.
Maria cantarola seu axioma predileto. 'Mija em mim a pobreza cariada, um escarro musical!'
Mija no que sou de hotel, e te levo pela mão, sim, levo, trago sua fumaça-corpo para a despedida, sim, sou boa nisso, me repita na caçamba, no hematoma, me repita enquanto sirvo papa de ferrugem e silêncio de branco arsênico .
Maria sabe que pode afagar os cigarros em seu braço. Você: 'Nem ligo.' Passou a fumar ainda mais, porque o pároco e o bueiro sempre se confundiam por dentro dela, como um sorvete que apaga.
O Pedinte recorre à catedral. Ele não sabe onde ler, e se agarra às paredes. Escreve numa pedra, pedido de socorro que afunda. O ruído continua. Vem exatamente sobre a cabeça, escorre, engorda o coração do porco. Espetáculo é como ele grita na castração.
Maria não abre a porta quando o pároco alimenta seus mortos. O Pedinte, depois da passagem, se circula. Vê algumas luzes na noite, toma um banho na praça, entre pivetes armados com fuligem de churrasco risonho.
O cansaço pesa como favores de família. Ele já não dorme. Levita.
Existe uma única frase dos políticos que considero com sentido: continuidade sem continuismo.
ResponderExcluirRe-leitura em que predomina o essencial escondido em meu texto: que a exaustão leva à energia, um paradoxo físico, mas como sabmos, o Universo é limitado e curvo, o fim encontra seu início e os buracos negros são poemas, a sugar-me.
Paulo Castro.
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