segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Grazzi Yatña
Dessa vez nem silêncio
e atravessei
varal.


Por herança: sem visita fora de mim
no acontecendo eu.


Nunca pedi penico emprestado
bem assim bosta.


Não consigo sentir meu cheiro.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Galpão

texto de izabel xarru

Ir como quem não sabe. Era a condição. Suando frio, arrastei dois ou três embrulhos de uma aplicação de coisas em espaços cujo mapa era absolutamente pessoal. E a velha já fedia.
Ela:

-Há três dias me preparo para não enlouquecer se vocês tirassem uma ou duas coisas do lugar. A senha: parem aí mesmo. Não posso com isso. Sentem. Mas durem pouco em sua visita. Não tenho mais florzinha pra dizer. E nem apagar, quero que não questionem isso.

Ele: -Isso?

Ela: -Isso. As minhas intenções. Já pensei saber, como vocês pensam agora. E já fui como são; cada qual, sua vida, seu papel. Acontece que agora as coisas atravessam meu corpo-mente, que alma já não acontece.
Ele: Como é que alma não acontece?

Ela:-Ah, o bom de vocês é o quanto são previsíveis. Escuta: alma acontece quando existe um movimento em direção ao outro.

Ele: -Outro?

Ela: -Não o do livro. Outro mesmo, quem não é você, é outro.

Ele: -E quem não é você?

Ela: -Este é o problema. Se a caixa de ferros me atravessa, ela sou eu. Se os papéis, os brinquedos, a luz, então....até as pessoas sou eu, pela ...desencapei os fios. Agora devem ir. Sabem, fiquei cansada. E já me ajudaram com a nova pergunta. É um beco. É um trem. E desenho um fio vermelho em todo o percurso.

Coisa por coisa, o lugar era pilhas, pedacinhos. Desde bagos de feijão, sacos de ferragens e aviões de controle remoto até oliveiras plastificadas. Tudo às tripas, como uma brisa serena que ocupasse a mulher com as mãos. Antes que fôssemos embora, ela me olhou do fundo de não sei que mundo, e me disse então:

-Não é nada, não. A morte impossível é que dói agora.

Um cheiro de lixo ocupou todo o galpão. A dor dela me enojou. Escarrei ali mesmo, e saí antes que a velha me batesse, não sei como tive pernas tão astutas.

Chegando em casa, senti novamente o cheiro do lixo crescer por dentro do meu corpo. Abri a geladeira e descongelei toda a carne, para ver se eu vinha dali.

Sorri ao misturar sangue com perfume francês.




quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Bilhete

Texto de Izabel Xarru



Tenho certeza que saiu um berne daquela cutícula rápida, enquanto ele escrevia. E foi eu ler que a gosma se enfiou no meu olho, ainda quente. Um cheiro de palavra velha solfejou na parede. A parede me adotou, cobrindo o bilhete. Depois dos mísseis de subterrâneo, cresceram caroços nas minhas portas.
E adeus.
Amém.






Grazzi Yatña

Balancei.
Fez um pedido quase ilegível,
num resto de papel.
Eram grunhidos os garranchos.
No lugar da assinatura,
desenhada uma carinha.
No outro dia me trouxe
um prendedor de cabelo feio
e achei bonito assim.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Grazzi Yatña

Sem hotel.
Lembrar acontece estrangeiros.
Tolo é ontem e neon cigarro.
Transito ilesa. E me dizem "Pedra".
Perdão! É que hoje é mantra e vendi caro. e cuspe.
Shalom.

Esquecimento

texto de Izabel Xarru
para Paulo Castro


Não. Não há o que dizer depois que o chapéu foi esquecido entre as latas e esse ruído sem medula, que não pára.

O valor depositado, mesmo que justo, com o tempo de gotejamento, já umidecia as babas do irretorquível, sim, sobre o telhado, nu e guardado.

Maria cantarola seu axioma predileto. 'Mija em mim a pobreza cariada, um escarro musical!'

Mija no que sou de hotel, e te levo pela mão, sim, levo, trago sua fumaça-corpo para a despedida, sim, sou boa nisso, me repita na caçamba, no hematoma, me repita enquanto sirvo papa de ferrugem e silêncio de branco arsênico .

Maria sabe que pode afagar os cigarros em seu braço. Você: 'Nem ligo.' Passou a fumar ainda mais, porque o pároco e o bueiro sempre se confundiam por dentro dela, como um sorvete que apaga.

O Pedinte recorre à catedral. Ele não sabe onde ler, e se agarra às paredes. Escreve numa pedra, pedido de socorro que afunda. O ruído continua. Vem exatamente sobre a cabeça, escorre, engorda o coração do porco. Espetáculo é como ele grita na castração.

Maria não abre a porta quando o pároco alimenta seus mortos. O Pedinte, depois da passagem, se circula. Vê algumas luzes na noite, toma um banho na praça, entre pivetes armados com fuligem de churrasco risonho.

O cansaço pesa como favores de família. Ele já não dorme. Levita.





quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

O chapéu.



Para Izabel Xarru.



mananciais e telhados, vidros de ônibus e vontade de botar fogo,
já vi dessas coisas, sim senhor,
mas abarquei a vela sendo vento e por isso
a solitude te afasta de mim, amedronta, sabe ?
venha.
logo mais acima o Pedinte se foi e deixou o chapéu na frente da catedral.
apenas peço, para me manter acordado
que deposite ali qualquer valor,
mesmo que sejam chuvas ou telhas,
tais fotos outrora alguns,
uma lataria de unhas cortadas
ou o fósforo que ainda possa vir a funcionar,
e veja,
mesmo com a calma benfazeja do pároco,
que aqui te indicou o caminho de onde fica o
Homem que Conta Histórias.
Sem mesmo medo, traga até aqui o feltro e a órbita dos anos,
escolha algo e te falo sobre isso quando ainda era nem nascido aquilo,
se é do medo de si,
afinal, uma primeira vez,
a moeda, uma pequena moeda de valor quebrado
,de vírgulas condescendentes,
e entenderei que devo pisar fraco na fumaça
entre o senhor e aquele ali que te fez andar de tão,
mas tão longe,
do que o senhor era no esteio.
não se enfrente tanto se o medo bate,
afinal chuvas de espetáculo
corroem musgos e paredes das famílias,
e telhados por vezes ficam melhor em flores, terra e bilhetes,
sobre as lápides.
mas seja livre na escolha.
o pároco deve ter te falado sobre isso,
bem como falam os mitos de tal estrada onde o hoje pontua.
- Quem foi o homem que um dia lá deixou o chapéu e a ordem ? hum...essa é a pergunta dos que ainda esperam algo do abandono lá das malas,
na pensão reconstruída sempre
de Maria puta em chamas e fumaça densa, sem piedades,
mas sim, reconstrutora,
- vai-te benza-deuses-orgulhosos, vai-te e não nos incomode -
assim sendo já será, faça
:
passe-me todo o chapéu conteúdo,
esvazie logo aqui nesse nada que se abre no telhado do ar, o raio,
não saia daí por nada - vai gostar: a lassidão de esgotar-se finalmente -
por nada, repito,
até o dia
em que talvez eu volte,
ou te procure
no fio dos anos,
das três megeras domadas, ah conhaque ,
indicado pelo pároco, eu e tempo,
para que me conte e me alivie
da história, dos afagos e fátuas Romas,
do acaso
da andança suspirosa
enfim,
desespenrançosa raça,
do nós sorridentes então.
º

Sede


texto de Izabel Xarru
imagem de Éder Santos




Isso é porque nem sabem o quanto esperei com uma faca e um quindim na mão.
Agora aliso a seiva: não me conheço.
Coloco um ponto no fio de luz e invento a eletricidade.
Estou a postos, como um beco.
Depois doutrinei três ou quatro frascos de cloro ativo, gemendo.
Nas prateleiras tinha tudo que eu precisava: um aniversário, um enredo, alguns absorventes. Mais que isso: tinha leite sanitário.
E o filho desenha, na placenta, um pai.
¨¨

Ei, Bel! Você:

Grazzi Yatña

Saiu do corredor polonês segredo que era o brinquedo,
matado terceiro
e nascente do morto.
Bebeu o queimado não de mim
beijando pó de mico.
Raspou do prato
a sopa de ralo porcelana
e fez um fósforo de bueiro
no rastro.
Moça incandescente aquela, nela,
que já mora em mim.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Grazzi Yatña

Quando ler bom dia é a sorte
trazendo o poente.
Um cachinho de lambrusca por dormir
mofou no copo.
Azedume com nuvem branquinha cobrindo
também acho bonito mas nem bebi.
Dormi algumas vezes molhando o mar
com meu cabelo, peguei no vento
e fui parar na China, entre coqueiros.
Depois agora Lola lambeu a calçada no meu pé,
escolheu a página do jornal e fizemos
uma fogueirinha.
Ela é a minha garota!

Coffe Black - Paulo Castro




e tu, messalina:vou engolindo meu café

e tomando minha fumaça com uma certa mescla

entre mescalina e tu,

com uma certa calma

até mesmo por tu, desalma


não é papo,

mas(que) o novo

tenha tempo &

o velho se acalme,

são essas obviedades de chaleira

que me transformam em pó pra tu beber.


jogar fervendo nos olhos

fechar rapidamente a órbita

pra te beijar,mescla linda,

o dentro da pálpebra.


- porra, vai com calma no chantibon.º

Marca Foda - Paulo Castro


a gente marca um café

um uísque ( que "drinque" é coisa de cabaço)

a gente marca uns "bolinho" de bacalhau

a gente marca ouvir i-pod com o mesmo fone,

mas,

foda

foda

foda,

essa não se marca( touca)º

Ao Acordar - Paulo Castro.


ao acordar cedo, o sol ilumina coisas que no dia de vais e portas
vens
ficam esquecidas.
o sofá com o tecido rasgado pela gata.
a parede descamada com imagem de faca aguda,
&
mesmo por empréstimo,
o fogo do primeiro café.
o tempo que ele leva é nuvem que me cerca
lá, olhos ainda grudando, lágrimas e sujeiras sonhadas,
quem sabe,
talvez você , corpagen abandonada,
em tal tempo de nebulosa,
ansioso até a água ferver, observo que o chão amadeirado,
bonito como trilha, ou sentido passageiro da vida,
também é assim feixe faturado,
a janela do vizinho à frente
brilha, mas
a água está fervendo,
logo as pessoas vão estar
acordadas
e inutilmente
correndo atrás de alguma forma
de iluminação,
mas ainda,
a folhagem toda
na horta
respira cor.
º

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Sombras nas Ostras



texto de Paulo Castro



"Depende do acaso que reencontremos ou não esse objeto antes de morrer."
( "No Caminho de Swann", Proust ).




º
Naquele dia o carteiro era outro cara. Nem ao menos vestido de amarelo e azul e uma caneta bic. Um senhor forte, alto, bem vestido, gravata borboleta, me passou as contas e em seguida me deu um murro na cara.
Limpei a boca e dois dentes na água e na luz. Respectivamente.
- Bom dia, postman.
- Ela é minha filha e nem sabe disso. Mas agora você sabe. Assobie errado, sabiá, e arranco seu timo para a moela de reconciliação familiar, vai tarde.
E se foi batendo a porta. Códigos de barra em hemorragia. Bala de gelo e o sofá com as overtures de Wagner na vitrola. Seguindo as regras, peguei papel e mandei algo como:
"Charlie Parker tovaca be bop com uma magnum . 44 entre os lábios".
Tomara que você goste. Demorou para sair. Logo antes do desmaio por inanição e dor. Precisamos temperar esses malditos cubos de gelume.
º
Coincidência ou não, ou como sempre, mais ou menos, a brincadeira era nova no dia seguinte.
Eu andava na frente, fazendo coisas cotidianas, cantando garotas de rímel e emocore, pegando o metrô, indo ao jockey. E você estava atrás de mim, imitando e repetindo cada ato meu. Com a câmera de filmagem em mãos. Mas captava sua própria sombra. Não me mirava. A objetiva nas suas canelas. A boca latejando. Ouvi você rindo quando o carinha do banco não aceitou as contas.
- Ai, que noja !!! Creda !!!
Mais ou menos coincidência. Atrás de mim você gargalhava. Um riso espasmódico de choro desesperado. O desespero: o sentimento mais fácil de fingir quando negociatas afetivas estão em jogo.
º
Ficamos um bom tempo nisso, e não recebíamos mais contas. "Débito automático". Ou "ande na linha, garoto". O teto de um templo despencar pode ser considerado um milagre? E sua sombra gemia bufanesca enquanto o dentista ( "Primeiro andar, segunda sala depois da Imobiliária "Futurex") enfiava as próteses e coçava o cu, o rabo e minha boca, cheiro de self-service. Existe soco no toba ? Dizem que é amor, os sensíveis.
º
Em casa assistíamos aos vídeos. Você fazia pipocas. Eu fumava, colorindo as gazes que faziam alascas no meu maxilar. Paredes, ruas, grafites, e sua sombra sendo eu mesmo. A minha. MAS É ARTE, TÁ PERDOADO ! De auto-estima estou afins de uma dose caprichada de heroína antes de tocar para o público de marinheiros que ao me alisararem ao porto ( sangue brotando da gengiva em jorros súbitos e sórdidos), alisavam tua sombra e pela primeira vez nessa vida, gozamos juntos. Pra mim foi urro de náusea, porém você quem diz e acha lindo & você é minha sombra.
- Ei, Jorjão, desce um conhaque ! Sabe que minha mulherzinha não passa da minha sombra ?! Bem, desce dois. Melhor. A dela, dupla dose.
º
O carteiro bem vestido sumiu para reaparecer um tempo depois. Quando o vi subindo a escada espiral, peguei logo o saxofone para me proteger.
Mas foi bastante citadino e apenas me entregou um bilhete dobrado à la Amigo Secreto:
" Atrás de um grande imbecil, há uma grande mulher. Queime isso. Presunto dos teus bagos no futuro do azeite fervente".
º
Mais ou menos. Isso das coincidências. Logo após o bilhete, novas regras no trenzinho.
Você andaria na frente, tomando atitudes e táxis e garotas de programa.
Eu filmaria tua sombra e tentaria - isolado - te imitar os atos.
º
A tarde na praia foi agradável, deixei a câmera cair na areia, moleque passou correndo, sujou a lente. De curto-circuito minha atitude medular foi correr atrás do pivete. Mas a sua sombra o abraçava logo adiante. SOCIALISTA ! SANDINISTA! DADAÍSTA ! Me ajuntei à vocês e fomos três espécies de anjos com íris de sol. Forçado, mas pra trucar: com uma torcida leve de cabeça, constatei:
Não havia sombra atrás de mim. De certo o horário, nada demais. Sei.
º
ECT= Eletro-Convulso Terapia.
ECT= Empresa de Correios & Telégrafos.
Dizem que em nosso paisinho de merda as duas coisas são muito eficazes, pontuais e cheias de ciência e organização.
º
Nos desabraçamos do ligeira e voltamos a pé para casa.
- Precisamos fazer umas trilhas ! Isso sim ! Te falta saúde e beleza !
Tropeçando no calçadão ficava mais fácil de dissimular: eu realmente estava sem sombra.
º
Quando preparamos pipocas(-lhe) e sangue com charuto e rum(-me), o vídeo deixava claro:
Sua sombra estava adquirindo cores. E alto-relevos. Batom cereja dizendo claramete poltergeists de poemas que não eram meus, mas louvores às bravatas e antigos amantes e um tal de "papai carinho no banho".
Você pulava nas almofadas, passava pipocas na minha gengiva e tudo aquilo era bem o máximo para você.
º
Seguinte, se um cara não teve pai, arruma um substituto. Um exemplo masculino. Acessei o mais próximo:
Fechei ambas as mãos e lhe meti bem no meio da cara. Querida, você apagou. Liguei a câmera, apaguei todas aquelas merdas de filmes raptores e acionei o GRAVAR em "close" na sua cara. Em poucos minutos ambos os olhos pareciam de guaximins atropelados na BR 220. A língua pendendo pra fora. Esse detalhe foi definitivamente uma zerada no placar da respeitabiliade erótica. O nariz soltava uma enxurrada de verdume couve com filetes de outros restos do almoço. Uma pipoca entupiu sua narina esquerda. A outra começou a fazer bolhas.
º
Só então fui conferir: lá estava minha sombra. Longilínea como uma seta que dava direto no aparelho de telefone. Eu não tinha apenas sombras. Tinha enormes asas negras. Obrigado, papai carinho nenem. Eu poderia voar rente à bocarra dos crocodilos no Zoo.
Então - mais ou menos isso, da coincidência - o aparelho começou seu ganido agudo e ritmado, vibrattio. Caminhei com calma, quase missão, das certezas dessa vida sem bonus track.
- Garoto.
- Eu mesmo.
- Você não deveria ter feito isso.
- Sei, em mulher, nem com uma rosa. Mas fiz. Prefere Parker ou Dirty Harry, papai ?
- Estou indo aí. E espero que ela esteja viva. De qualquer forma, não será agradável para você, garoto.
- Miles Davis também é de foder a xota da macaca. Venha, papai. A porta está aberta. É só entrar. Estou preparadinho, seu merda. E acho que ela não está respirando.
- Filho de uma puta !
- Isso aí. Agora chega de papo. John Wayne ou Bruce Wills ? Até mais. Li num livro: depois de quinze minutos sem irrigação o cérebro vira borda com catupiry. Inté, florista de pediatra subornado.
º
É isso aí, amiguinhos solitários !
Tenham um bom exemplo fálico e uma garota tutti-fruti-cult. Contem comigo nas confusões.
Mas agora seu herói predileto precisa arrumar uns truques por aqui.
Nos vemos em breve. E tudo pode ser corrigido, ok ? ( PISCA )
º

Dunas de Astrolábio

Texto de Grazi Yatña
Tu filmas: antes que a paranóia fizesse teu sair, correndo.Uma onda que nasce forte, e não perde força, apenas se adapta à menor quantidade de água.Alguém derruba uma cadeira, espirra areia, a câmera cai e lá está a praia. E nela, um pé passa rápido ( risos ao fundo ),rápido como uma mensagem subliminar. Como um pensamento que faz graça.Eu filmo: Quem não notou como agia Dirty Harry, amorosamente apertando o gatilho, quase com compaixão,sem mover um ato de reflexão; quem não notou que esse homem outro, pouco depois, filmou Bird sem precisar do blues, das cidades bucólicas, dos fantasmas, do jazz e até mesmo de Bird?Ao lado, talvez antes de qualquer lado, algumas palavras em choro: vendas amarradas no desembrulhar dos olhos.Buceta em dança das cadeiras? Olha que te faço engolir uma flauta inteira, hein!..Acordei com algo impregnado em teus cabelos te trançando.Nada te é pior do que o não-atrito.Greve de sexo sem sexo, sem greve, sem Grécia e o que de mim é tátil. Uma Alface lambendo as cataratas do meu Vovô querido.Amor entre signo e significado, lembra ? Mais que sal da terra, esse chato, sal do mar, sal daquela cena.Signos se afastam de seus significados para um e outro e em alguns momentos, se aproximam, certeiros: isso gera curvas...Alguém filma sem revelar:Algumas coisas que detestamos podem ser mais aliadas de outras que adoramos.Tão democráticos que aceitam com sorriso, o afastamento rancoroso do mundo."É triste? Bonito? Perverso? Patético? Esse é o começo ou o fim?" - dizem as legendas impugnadas.Esperem, meninos e meninas, não há título."Mas é filme, não é?"
Vocês não sabem?..

Armaduras Salinas

Texto de Paulo Castro
Nada te é pior que concordar contigo, porém, realmente sempre escapa algo, como os pés da classe média....como eu gostaria de bebê-los assistindo a goleada do Real Madri. Dar de beber pés ao manco, até mais, se eu pudesse comeria-me a classe média com maçã e rabinho retorcido dos apertados bangalôs de barro, aulas de argila, por exemplo, mesmo Sílvio Santos e as leis da física. Não de atoagem, nem de atonal, mas penso nisso já que do inverso oposto de ti é você ( carinho desnervado) ainda assim estou aqui, ainda que não me caiba, o zero atritoso.
- É você ( carinho próximo e eficientemente cotidiano) uma bobagem.
Estar e não ser, ou o que de mim é tátil, tu.Provas não faltam: como adivinhou que desejo para o dia da árvore uma máquina de lavar? Lavar pés em chás, escaldando tradições: repelido álbum de retratos em carrosel ( vovó pedindo socorro no arredondado do vidro espumoso). Tu. Você ( carinho até vai ).Honestamente como o riso sem motivo, acho mesmo que nos divertimos com essa armadura que matou minha mãe de parto ( pozinho, vovó, vá com crueldade para as caspas de Sílvio Santos e suas goleadas de madre superiora em comédia de atores negros), é a tua versão sua ( carinhos vamos batê lata) que me segredo inutilmente: até mesmo da língua assemelha sangue.
º
Homens e mulheres só existem por serem o axioma impossível.
º
Hoje aguardei o "timing" de sua saída ( carinho alface e sabão em pó) e chamei uma buceta. Das que não são dadas aos tremiliques. Ela tinha pés e foi de espantar a quantidade de histórias que me contou diante da negativa à sua nudez ágil. Eu ia lavando-a em carqueja enquanto soube por exemplo, algo como negociar prestações da faculdade, filho que mora em Minas, linda cicatriz de uma tal cesárea. Riu quando tremi se poderia fotografar. Apenas disse que era feio, mas riu bonita. Longe de ti. Longe de você ( carinho "ninguém faz igual"). E pensar que nosso último guru nos abandonou por não termos "faculdade alguma, sem condiçoes de aprendizado das velas coloridas". Só por causa da risada e dos anjos, nem ao menos negociou ? A buceta também ficou indignada em nosso favor, raridade são essas moças, tanto que riu à raia da urina, quando ia contando e lambendo a planta (e a couve ? alface e couve, por Deus !) do pé esquerdo. Estava com a gente e abria. Cabendo mesmo o zero, "lute, homem, não é um à esquerda como ela te faz crer!".
º
Logo você chega e eu a mandei embora. Saudades. Também fumava cigarros normais !De você ( carinho alface) espero a couve prometida no retumbar das latarias. De ti, que não neve mais nos meus óculos de leitura & veraneio, em coxas largadas na cadeira de praia.

Mareou (Quadratura)




Texto de Grazzi Yatña



Francamente? Não.O café sempre é servido meio frio já, como se no intervalo entre colocar água na chaleira e acender a boca do fogão, o gás escapasse todo.E você sabe mais do que ninguém como o chá para a classe média representa um ótimo escalda-pés.Não que eu não faça grande diferença em praticamente tudo, mas e daí, não é mesmo? O caso é que eu não sei realmente de que porra você está falando quase nunca e mesmo assim sempre acerto as quinas acumuladas.E antes que você diga que o inverso também acontece, eu digo que isso seria possível se não fosse por um detalhe: O inverso sou eu.Isso é o fim da picada para alguém que já tem mais do que recordes batidos e tem plena convicção de que o imponderável é nunca ter conseguido dinheiro suficiente para comprar uma máquina de lavar com centrífuga à vista. Confesso que admiro quem consegue ler praticamente todos os livros até o final e ainda sem bocejar. Mas só os que, nesse intervalo, nem respiram.Lembro de época em que determinados homens eram escolhidos a dedo por algum dado pirotécnico lançado verticalmente nas matriarcas do cu do mundo enquanto eu apenas não tinha nascido. Enquanto você escreve e lê amores, eu lavo e espremo a roupa suja na mão e ainda com um certo ar contrariado que nem me convence. Sempre serei neta de lavadeira.Chacot pra mim é bosta. Berlim é bosta. Pensando bem, você é um bosta. Não que eu fique muito atrás disto também, afinal tenho tanta preguiça desse lance homens-mulheres. Quando penso nas besteiras enormes que fabricam casais a granel tenho até urticária. Afinal é isso que são homens e mulheres, né? Um monte de frescura intercalada com grandes ares de sabedoria messiânica gay, variando quem dá o rabo pra quem de hora em hora pedindo bis.Mas ficam adoráveis lembrando de alguns sorrisos sem autógrafo.Pensando bem, nada disso.Chacot me lembra chacota, de Berlim lembro de "Asas do desejo" (era em Berlim, não era? Se não foi passa a ser agora). Porra de filme desgraçado que me fez sentir uma rolinha manca e que prometi assisti só uma vez por ano, todo o resto da minha vida.No dia em que uma mulher nascer perdoada por ter um lindo sorriso, eu chuparei picolé de café, nua, no polo norte.

texto de Paulo Castro

Você me pergunta, depois de passar tinta na sua nudez, azul deixando rastros do que combinamos, porque eu passo - e tomo - tantos cafés toda manhã, nas enormes xícaras que compramos em Berlim ou quem sabe logo ali mesmo, mas você prefere me fazer acreditar em Berlim e eu me submeto à hipnose que você aprendeu em Paris, com Charcot, ou talvez logo ali mesmo, onde compramos talheres e pratos, os sorrisos da multidão ao redor me confundem. Eu não conheço ninguém e todos parecem me conhecer, e mais, como se eu fosse uma pessoa muito educada, um bom-vizinho, alguém de certa normalidade. O tipo de pessoa que dorme no mesmo quarto que a namorada, que até mesmo tem uma namorada, e costuma vê-la nua, beija-a na boca com carinho, a penetra com vontade e goza(?- esses malditos livros !) lá dentro já que ela acreditaria em pílulas e não faria, por exemplo, brincos delas.
Não que você tenha feito brincos de anticoncepcionais - a concepção para você te faz vomitar, a simples idéia, o inocente início de conversa sobre isso - não, você nunca fez brincos com os 21 comprimidos, mas estamos em um ponto em que eu sei exatamente o que faria. Ímpar.
Não era disso que a gente tentou fugir? Quartos separados, um em que tenho meus livros ( você nunca exerceria censura sobre o que leio, mas o tom do seu hum-hum muda de lombada para lombada), minhas fotografias ( nenhuma sua, por mais que tivesse arriscado propor, mais e mais nos últimos tempos e com a preocupação com nossa "comunidade individual"), outro em que você tem seu som, fone ( para não me incomodar com SUA LOUCURA), espaço para dançar e o varal com carne de sol à janela, para seus sushis.
Como eu poderia tomar menos café? Hoje tentei chutar o jornal embrulhado em saco contra a garoa, e a única coisa que aconteceu foi a imobilidade e as gotas entrando pelo meu chinelo plástico, aquele que me deu, um de cada cor e tamanho...eu poderia ter me abaixado, pego com a mão, trazido para dentro de casa, deixado as gotas maiores e violentas pingarem no jardim e então pegar o jornal e ao invés de colar as páginas camada sobre camada sobre camada sobre camada, a sala, ler o que estava escrito...e se um filme bom passar na matinê ? Não digo para irmos de noite, como fazem os Outros, os que não entendem a nossa proposta de comunidade individual, mas seria bem rebelde, eu imagino, eu desejo, sem hipnose hoje, não que esteja montando um levante, assistirmos um filme às duas da tarde, não ? Até mesmo eu proporia que enchessemos os pacotes que seriam das pipocas com folhas e pétalas. Não é mesmo ? Sem onda ? Prefiro nem esboçar a tentativa. Sinto-me o panaca da escola tomando tanto e tanto café, correndo para o meu quarto para fumar cigarros, assim, normais. Através da porta que nos separa, sei que você está azul, e ouço seu riso.
Amor, já não é preocupante o fato de eu estar fumando cigarros...normais ? Acho que você não está sendo esperta, ou bem o sei, sua esperteza está em fingir-se o tempo todo em não se importar com nada, que eu possa ir embora, destrancar a faculdade, fazer carreira, aprender a dirigir, descobrir onde estão morando meus pais, se tenho pais, não me recordo ( "olhe fixamente para meu clitoris....assim....assim...."), afinal, é a liberdade, mas quem foi que disse que quero essa porra dessa liberdade, café, mais café, os dedos dos pés ainda molhados e frios e para não te perder preciso ter ao menos uma idéia original por dia, que nem sei mais se é minha, sua, apenas sei que a originalidade nada tem mais de original, já provamos isso, eu provei isso, mas você insiste. Provei, mas não falei. Ao contrário, liguei meu notebook em meu quarto e você no seu. Acionei a webcam e com o pau escondido entre as coxas e pêlos, simulava para você uma masturbação feminina e você se depilava com uma guitarra no colo, mostrando-me apenas os pentelhos que ia esfregando nas cordas, gravando tudo isso no mp3.
Como com os cigarros, oposto, não sinto vontade alguma de me gozar. Acho que se eu batesse uma punheta pensando na atriz do filme matinê ( um plano ?) eu teria um pouco mais de coragem, mas é impossível a idéia de uma ereção. Não que não tenha tentado, com uma das vizinhas mais sorridentes a mim, mas era algo muito errado de se fazer, errado, errado, errado, a palavra era obcecada na cabeça, pois a gente aprendeu que gozar era acho que religioso demais, ou capitalista demais, ou comunista demais, o fato é que eu sei que lá fora as pessoas têm ereções e que depois disso vem uma coisa boa. Uma imagem ! Eu sou menino e corro contra o vento para que a pipa vá mais alto e uma voz masculina muito bondosa diz "isso, isso". Mas é assim, sobre o banquinho, sua bunda azul e aparentemente dura, faz mostrar os ossos, quando fica na ponta dos pés e cola as páginas do jornal de hoje na parede. E eu sou livre para passar mais e mais café e fumar cigarros normais escondido no quarto sem esconderijo em vão.
Contanto que depois eu escreva um poema com as palavras que me ocorrerem à (minha?) cabeça, ou faça barulho que for com o mais novo instrumento musical que você trouxer da rua, disse-me faltar-nos um oboé.
Então você diz, de uma ou outra forma: - Você continua sendo meu tesão louco e livre !
Sorri e vai dançar com seus fones de ouvido.
Mas sabe, como é desesperadoramente lindo esse teu sorriso !
Lindeza sem nome. No dia em que eu conseguir descrever o que sinto quando você sorri, já aviso calado, chega, chega mesmo. Eu... tentarei sair daqui.
º