domingo, 27 de setembro de 2009

Telegrama

Grazzi Yatña

Por um segundo de antecipação ele perdera o trecho importante.

Não lembrei mais onde caberia uma vírgula, acrescentei um ponto e voltei a procurar meu isqueiro. A fumaça me fascina desde menina e cá eu tenho minhas fidelidades ao que me coloco à boca. Os outros me dão com filtro.

Achando graça, exclamei no lugar de cócegas e fiz garganta. A noite finalmente voltou e eu já acolhia meu sorriso invulnerável que não late, uma sombra me aquecendo o bloco de anotações.

Servirei o jantar cru e sem luz de velas.

Enquanto isso, a noroeste do coturno, por todo lado há fronteiras, é o que disseram.
Dei a meia-volta, soprei o guardanapo branco pousado no colo do desprevenido,
que gemeu a salamandra desértica no copo que bebeu.

Onde há espécie, alguma necessidade é absorvida e vira única pena: língua.

Dá uma trabalheira da porra não querer dizer nada a ninguém.
..

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Carta

izabel xarru



Por acesa e apagada a carta, tantas vezes, agora não tenho mais ânsia de te encontrar ouvinte. Nem desprezo por não tê-lo cola e selo.
Não sei de onde veio este leque repentino, mas está aqui e é meu.
Ao lado da cama, esse abajour leituras, telefonemas e a medicação-moda que alivia o peso dos lugares onde, sabe-se, talvez eu nunca tenha estado.
Sou o livro que mira seu olhar sonâmbulo e se inscreve na retina.
Não sorrio sob o leque por puro recato . Olhe bem: você foi o homem que amo.
Castigo seus ossos com a película que torna o espelho substantivo. Sim, bancando o rei do pirulito jovem e universal, você, vejamos, poderia estar fumando uma maconha- marley-quer-prostrar-para-Selassié, em companhia de nossa filha, ou de sua avó , e ainda encontrar dignidade nisso. Como as cartas são inúteis!
Calma, a cena é de todos, eu sei.
Mas suas tragédias arrepiam o mais dedicado neófito, aquele ali de vermelho, fazendo sangue-ioga, com calculadora na mão e uma vaca na fala.
Como eu dizia, esta carta não pede.
O relógio bombeia insônias.
Não fumo. Hoje guardei um cigarro seu para fumar na janela, olhando as montanhas mais para lá. Você atenderia o telefone de madrugada. Enquanto isso, eu fumaria o meu cigarro, quase uma viagem a Paris. Sem cartas.
Este leque insiste que tenho calor.
Em mim, uma outra riqueza acena.
Ainda não sei meu nome, mas tenho aqui a passagem.